segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Danailov acusado de fazer sinais para Topalov

A imprensa internacional tem realizado a cobertura das alegações feitas contra o GM Veselin Topalov e seu empresário, Silvio Danailov, durante o torneio de Wijk aan Zee (Corus). Há pedidos sinalizando também para o Campeonato Mundial de 2005 em San Luís, na Argentina.

A história original sobre as alegações de trapaça surgiram no sábado, 27 de janeiro de 2007, na edição impressa de um dos maiores jornais alemães, o Süddeutsche Zeitung. O autor é Martin Breutigam, um Mestre Internacional de Xadrez que contribui há muito tempo com este e outros grandes jornais alemães. Segue reportagem completa.

Quando o polegar se move na boca

Há jogo sujo no xadrez? Observações em torno do nº. 1 do mundo,

Vesselin Topalov

Por Martin Breutigam

Por mais de um ano persistiram rumores que Vesselin Topalov, da Bulgária, pode ter utilizado recursos ilegais para vencer o Campeonato Mundial em San Luis, Argentina. As alegações nasceram de outros participantes do Campeonato Mundial, que não quiseram ser identificados, e diziam que seu empresário Silvio Danailov pode ter sinalizado para ele discretamente os lances, checados com um computador.

Apenas uma teoria da conspiração de perdedores? Ou o jogador de 31 anos, que perdeu neste meio tempo seu título, secretamente recebeu ajuda em alguns de seus jogos? Se sim, como?

No torneio de Wijk aan Zee, Holanda, que termina no domingo, o comportamento de Topalov e Danailov deu razões a novas especulações. Qualquer um que visse os dois durante as segunda e terceira rodadas poderia ter a impressão de que um processo não-verbal de comunicação estava acontecendo entre os dois – somente reparado por quem olhasse cuidadosamente, no salão “De Moriaan”, que contava com centenas de pessoas, entre elas jogadores de nível mundial e amadores, participando de diferentes torneios sob o mesmo teto.

O Empresário ao Telefone

Na segunda rodada, Topalov jogava com as peças brancas contra o seis vezes campeão holandês Loek van Wely. Ele realizou o roque grande, van Wely o pequeno. Até o meio-jogo, nada especial aconteceu. Isso mudou quando o empresário Danailov entrou no salão.

Durante a hora seguinte, um estranho ritual foi se repetindo. Assim que van Wely realizava seu lance, Danailov saía rapidamente do salão e sacava seu telefone celular. Será que ele queria apenas transmitir votos de feliz aniversário? Checar os preços das ações? Ele poderia também, em curtos espaços de tempo, estar telefonando para alguém que, em algum lugar do mundo, estava acompanhando o jogo pela internet.

Qualquer que seja a explicação, Danailov retornaria ao salão depois de um curto período de tempo, sempre se posicionando na mesma área para espectadores e colocando um par de óculos, ainda que não seja de conhecimento público ele usar lentes. Topalov sentou-se do lado esquerdo, do ponto de vista dos espectadores, Danailov manteve-se do lado direito, atrás de uma barreira, e anônimo na massa de pessoas, a cerca de 15 metros de distância de Topalov.

Deste ponto vantajoso, ele não podia ver nada do jogo, ou mesmo do monitor que mostrava a posição, mas daquele canto, ele podia estabelecer contato visual direto sem que Topalov precisasse mover sua cabeça. Quando Topalov olhava para cima, quando era sua vez de jogar, e tão logo ele visualizava a figura de Danailov no canto, ele sempre geralmente colocava seus cotovelos na mesa e fechava suas mãos sobre sua testa.

Nessa posição de pensamento, parecia que seus olhos estavam dirigidos ao tabuleiro, mas também era possível que ele estivesse espiando por entre seus dedos, Danailov, que às vezes executava estranhos movimentos.

No lance 26, por exemplo, ele segurou seu dedo polegar com seus dentes e o moveu adiante, para o canto direito de sua boca. Depois disso, Topalov capturou um cavalo em c5 com seu bispo. Geralmente Danailov retirava seus óculos imediatamente e desaparecia do canto. O ritual seria repetido assim que van Wely realizasse seu lance.

Danailov sairia rapidamente do salão, faria uma ligação, e voltaria depois de um a três minutos, indo para o mesmo canto, e colocando seus óculos. E enquanto Topalov ficava na sua posição de pensamento, seu empresário coçaria sua orelha de três a seis vezes, bateria levemente em seus óculos com seu dedo indicador ou executaria outros estranhos movimentos.

No lance 31 ele estava mais uma vez com o polegar em sua boca, e Topalov capturou um peão em d3, com sua torre. Depois de 35 lances van Wely abandonou a partida, numa posição sem esperança. Mais tarde foi descoberto que todos os lances feitos por Topalov na fase decisiva foram também a primeira escolha de programas populares de xadrez. “Durante o jogo, eu realmente não tive a impressão de qualquer coisa duvidosa, mas também me disseram que Danailov estava agindo estranhamente”, disse van Wely.

O árbitro principal tampouco percebeu algo suspeito, mas ele disse que observaria qualquer comportamento suspeito durante o próximo jogo de Topalov. No dia seguinte – no jogo contra Sergey Karjakin – Topalov estava sentado mais à direita na área de jogo. No movimento vinte, a ação começou de novo: Danailov partiu da sala. Somente neste momento ele foi ao lado oposto, o canto esquerdo. De lá, ele não poderia novamente ver a partida, mas estabeleceria contato visual com Topalov. Neste momento sua posição já era precária; Karjakin tinha a vantagem.

Com movimentos precisos para empatar

No lance 23, com Danailov parado lá com seus óculos, o árbitro repentinamente moveu-se para o cenário e examinou o empresário. No lance 26, o ritual foi interrompido por um momento, quando alguém pediu a Danailov uma entrevista espontânea para a TV. Ambos saíram da sala.

Quando Danailov voltou, Topalov já havia realizado dois lances. Depois disso, a brincadeira já conhecida continuou: Danailov saiu, voltou, foi ao canto esquerdo, colocou os óculos, tirou os óculos, etc. Quase em todo lance, mais de vinte vezes ao todo. No fim, depois de uma série de lances precisos, Topalov alcançou o empate. Logo antes do controle de tempo (cada jogador tem duas horas para 40 lances), o ritual se tornou agitado.

“Não pude acreditar nisso, Danailov saiu em passos rápidos para o local onde ele podia ver Topalov, empurrando as pessoas que ali estavam. Era, acima de tudo, uma questão de tempo”, disse um dos espectadores, que esteve observando essas atividades por cerca de duas horas.

Nem Danailov nem Topalov estavam disponíveis para comentários durante a última semana, mesmo com as repetidas tentativas de contatá-los. Foi apenas uma coincidência o ele estar brincando com o polegar nos dentes, ou parte de uma comunicação secreta?

Isso se tornaria mais difícil em virtude da arrumação das cadeiras na rodada seguinte, quando Topalov realizou a quarta partida sentado perto da parede, encarando-a. Ele venceu o jogo contra o grande mestre Alexei Shirov. Danailov dificilmente apareceu no salão nesse dia. E nos dias seguintes, o ritual das segunda e terceira rodadas não foi repetido.

Os organizadores estão considerando a introdução de controles rigorosos para o próximo ano, entre outro, de detetores de metais. Recentemente na Índia e nos Estados Unidos, jogadores de baixo nível foram pegos trapaceando com a ajuda de sinais de rádio. Desta vez houve muito pouco tempo para ter-se detectores confiáveis para Wijk aan Zee.

(Süddeutsche Zeitung de 27 de janeiro de 2007)



Fonte: http://www.chessbase.com

Tradução: Camilo Cavalcanti Júnior

Equipe Suzan Chess

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